segunda-feira, maio 31, 2004
Breves Improvisos sem Tema ou Título - 1 ao 7
N.º 1
Título adequado para algo que não tem tema, apenas improviso, pois em vez de vir aqui para escrever sobre algo já previamente pensado, estou a escrever para permitir ao acaso uma configuração tal das minhas sinapses neurais que esta tal configuração permita ao acaso o surgimento de qualquer coisa remotamente interessante para preencher este breve improviso. Em outras palavras idênticas, isto não passa de um breve improviso sem tema.
Título adequado para algo que não tem tema, apenas improviso.
N.° 2
Ausência de tema é uma lacuna a ser preenchida pela diligência e pela perseverança, ou então pelo acaso, o que é mais provável. Acaso é uma das forças básicas, assim como a gravidade e o eletromagnetismo. Acaso quântico que expõe a incerteza das partículas em momento específico, em local específico do tempo e do espaço, bósons e quarks com crise de identidade, sentindo-se deslocados em seus deslocamentos incertos sem sentido. Fugidia brevidade do inconsciente coletivo subatômico, vítima de visitações de entidades alienígenas de outras esferas de muito além das órbitas dos elétrons.
Nossa ciência é indiscreta. Imaginamos as partículas em sua nudez.
N.° 3
Quando a ausência de tema é um tema, o paradoxo deve ser destruído, e a ausência de tema original deve ser buscada e recuperada. Destruir o paradoxo do tema da ausência de tema é diferente de fugir dele. Deve haver confrontação lógica, luta dialética, enfrentamento na arena da dicotomia tema/ausência de tema. Mas trata-se aqui de um improviso, apenas um rascunho preliminar que não deve levar à uma arte-final. O lápis não necessita do nanquim. A espontaneidade rejeita a elaboração. O momento exato do agora despreza a permanência. Destrói-se a ausência de tema como tema ignorando-a, desenhando rabiscos com as letras, vivendo no exato momento do agora, e jamais na permanência.
Morte é um estado, não um momento. Vida é um estado, não um momento. Eu sou um momento.
N.º 4
Grandes janelas são transportadas pela visão ao reino da audição quando músicas distantes e pulsantes invadem o espaço alheio quadridimensional do tempo invisível e autodestrutivo que transborda quadrados e cubos com noções fortuitas de efemeridade que duram exatos três minutos e trinta segundos como qualquer canção pop que toca no rádio da janela vizinha patrocinada por refrigerantes e mulheres seminuas com grandes seios que são transportadas pela visão ao reino do tato quando toques distantes e pulsantes invadem o espaço alheio pentadimensional do tempo dobrado sobre si mesmo na supersimetria enforcada por supercordas autodestrutivas que afogam círculos e esferas...
E todo o ciclo gira aprisionado na faixa de Möbius usada como um sutiã prestes a ser arrancado.
N.° 5
Pêndulos mortos do relógio balançam ao ritmo do vento extemporâneo. As horas paradas e indecisas hesitam na beirada da inexistência, com medo do pulo, com medo da queda. Esquecido, o tempo já não existe mais, e tudo permanece. A ampola e seus grãos de areia são agora gelo eterno, frio extremo e imutável. Grandes mãos que já tiveram a areia do tempo caindo por entre seus dedos agora apenas possuem a areia misturada com suor velho e rijo, que dá peso e lentidão ao movimentar dos grãos. Antes a areia escorria livremente; agora ela mal se arrasta. Antes ela caía suavemente, das mãos para a ampola; agora ela cai com peso e estrondo, com som e fúria.
O relógio está parado, e precisamos dar-lhe corda. Seja para que ande, seja para que se enforque.
N.° 6
Ângulos retos retomam anjos. Breves brisas, lisas e leves. Outros outonos autônomos, automáticos em tronos loucos. Improvisos e risos antigos retidos em sorrisos improváveis. Lápis lépido e veloz, atroz e intrépido distante dois pi. Inversões internas dobram-se em externas versões. De dentro para fora, fora o que está dentro. Claro risco vagueia, mourisco escuro.
Inversões internas e externas versões em espelhos feitos de palavras, larvas, fetos e fedelhos.
N.° 7
A chave negra desliza, abre por dentro, de fora para longe da vista, rica descoberta de preciosa visão, obscurecida pela chantagem do fim da noite, que após seduzi-lo larga o cetim, entregue à sua imobilidade, enquanto dedilhados insensíveis tocam o tecido, roçam com suavidade sua fábrica, e no horizonte os primeiros raios surgem, violência ultravioleta, minha negra violeta, pétalas de flor à beira da morte, poucos minutos a separam do fim, e vai junto a flor do paradoxo.
Uma violeta ultraviolenta aprisionada na lentidão do desabrochar e do esmaecer.Marcadores: Enigmas do macaco
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