sábado, julho 15, 2006
Machen
No último sábado adquiri um livro que queria desde 2002 ou 2003: O Terror, de Arthur Machen.
Muito pouco conhecido no Brasil, o inglês Machen foi contemporâneo de Oscar Wilde, Robert Louis Stevenson, conheceu pessoas curiosas com Aleister Crowley, & foi lido & comentado por Lovecraft & Borges.
Jogando todos esses nomes, fica meio evidente que a obra de Machen envereda pelos caminhos do sobrenatural & do fantástico, & um titulo como “O Terror” apenas reforça isso. Mas a produção dele não se limitava ao gênero fantástico, de acordo com o ótimo estudo biográfico que fecha a edição da Iluminuras, que consiste, inclusive, de dois trabalhos diferentes & publicados originalmente em separado: uma pequena novela que dá o título ao livro (& que não li ainda, mas que parece fazer jus ao seu nome) & Ornamentos em Jade, uma série de pequenos contos (não mais de quatro páginas cada um), que têm em comum uma certa qualidade bucólica & contemplativa, que, segundo o referido estudo biográfico, são características marcantes de Machen. Praticamente todos eles baseiam-se nas impressões de um personagem acerca da natureza & de suas belezas. Uma espécie de esteticismo do natural & do rural, com constantes & multicoloridos bosques aparecendo como cenários (& motivos) dos devaneios descritos.
Gostei particularmente do trecho a seguir, do conto “Os Turanianos”, sobre uma menina que encontra um grupo de ciganos em um dos citados bosques. Gosto desta parte porque ela me soa, humm, familiar, de certa forma:A mãe, que era bastante bondosa e virtuosa, às vezes costumava conversar com ela sobre os males do “exagero”, sobre a necessidade de evitar a expressão impetuosa de frases, palavras de uma energia demasiado feroz. Ela se lembrava de que, poucos dias antes, correra para dentro de casa chamando a mãe para ver uma rosa no jardim que “ardia como uma chama”. A mãe lhe dissera que a rosa era muito bonita e, um pouco mais tarde, aludira a suas dúvidas quanto à sabedoria de “tais expressões muito fortes”.
— Eu sei, minha querida Mary — ela dissera —, que, no seu caso, não é afetação. Você realmente sente o que diz, não sente? Sim. Mas é bom sentir isso? Você acha, inclusive, que está certo?
MACHEN, Arthur. O Terror seguido de Ornamentos em Jade. São Paulo: Iluminuras, 2002. p. 113.
Por fim, digo que tomei contato (provavelmente) com Arthur Machen pela primeira vez ao ler Snakes & Ladders, de Alan Moore & Eddie Campbell, transcrição para papel de uma performance que Moore fez muitos anos atrás, para uma sociedade ocultista (Aurora Dourada), da qual Machen chegou a fazer parte (& onde encontrou Crowley, entre outros). Em Snakes & Ladders, Moore usa Arthur Machen, sua vida & algumas de suas obras & conceitos (além de várias outras pessoas & eventos) para falar sobre vida, morte, amor, perda, magia, criatividade, imaginação & muitas coisas mais. Leitura das mais interessantes.
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